O presidente eleito Donald Trump anunciou, nessa última semana, que pretende pausar a imigração proveniente de países do terceiro mundo que apresentem altos índices de criminalidade, terrorismo ou colapso institucional. A declaração, embora dura, não é nova: já em 2018 ele havia usado termos semelhantes e, durante a campanha de 2024, voltou a defender a suspensão temporária de fluxos migratórios de nações que não cooperem com os EUA em segurança e repatriação. O estopim mais recente foi o ataque a tiros contra dois membros da National Guard em Washington, DC, por um requerente de asilo afegão que entrou legalmente no país durante o governo Biden – uma ocorrência grave que resultou na morte de uma das vítimas e deixou a outra em estado grave. Para quem acompanha a política americana com simpatia pelo projeto Trump, a dúvida é legítima: essa pausa na imigração de países do terceiro mundo atinge também os brasileiros que imigram de forma legal, qualificada e contribuinte? A resposta objetiva, com base em fatos e precedentes, é não.
O atentado em DC expôs mais uma vez o colapso do sistema de asilo nos últimos quatro anos. O backlog de casos saltou de cerca de 580 mil em janeiro de 2021 para 3,6 milhões em outubro de 2024 (dados do Executive Office for Immigration Review – EOIR). Programas como CBP One, parole humanitário em massa e a política de “catch and release” permitiram a entrada de milhões de pessoas sem triagem adequada de segurança. Relatórios do Department of Homeland Security indicam que, entre 2021 e 2023, mais de 375 indivíduos incluídos na Terrorist Screening Dataset (TSDS, ou Base de Dados de Rastreamento Terrorista) foram encontrados na fronteira sul, com pelo menos 99 liberados para o interior do país. Foi exatamente contra esse modelo – que quebrou a confiança pública e a segurança nacional – que Trump direcionou suas críticas, e não contra a imigração qualificada.



